A empresa brasileira Tecverde foi fundada em 2009 por um grupo de jovens empresários, com o objetivo de tornar o setor de construção brasileiro mais industrializado e sustentável. Sua primeira produção começou em 2010 com uma pequena fábrica, inicialmente focada em habitações modernas para o mercado de B2C. Com operações manuais e baixa escala de produção, foi possível definir a tecnologia e o modelo de negócios. Durante esse período, a empresa ganhou destaque por seu pioneirismo no mercado brasileiro e teve projetos premiados internacionalmente. Como resultado, atraiu investidores que contribuíram para sua estratégia de crescimento, o que proporcionou importantes conquistas em 2012, quando obteve aprovação do sistema de construção de acordo com os padrões brasileiros de desempenho de construção e os requisitos dos programas de habitação do governo. Da mesma forma, em 2014, progrediram com a implementação de uma nova fábrica voltada para a produção em escala, equipada com máquinas WEINMANN. Em 2016, outro grande progresso foi alcançado com a aprovação do primeiro edifício de diversos andares, para várias famílias, em um sistema de construção remota no Brasil. Ramon Kuhn Pollnow, Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Tecverde, descreve o significado dessa conquista: "Este produto ocupa a maior parte do portfólio de produção da nova fábrica e estabeleceu a Tecverde como líder em construção remota de edifício de diversos andares na América Latina." Outra importante conquista ocorreu recentemente, em 2020, quando a Tecverde foi adquirida pela empresa chilena E2E, um empreendimento conjunto entre a Etex e a Arauco. Conforme declara Ramon: "Isso fortalece ainda mais nossa estratégia de expansão e inovação no desenvolvimento de tecnologias mais industrializadas e sustentáveis para o setor de construção brasileiro." Atualmente, a empresa tem cerca de 350 funcionários entre suas equipes de produção remota e local, engenharia e outras áreas de suporte.
Construindo casas acessíveis
A Tecverde opera em três áreas de negócios. De acordo com Ramon, a área de B2B é o negócio principal. “O B2B refere-se principalmente à venda de sistemas de construção industrializados para construtoras e desenvolvedoras com uma demanda de alta concentração em casas acessíveis para programas de habitação governamental. Em 2018, a Tecverde foi responsável pela construção de edifícios de diversos andares no projeto Pinhas Park, com o desenvolvimento de apartamentos acessíveis.” Esse foi o primeiro projeto do segmento de habitação social no Brasil a receber uma certificação de sustentabilidade do GBC (Green Building Council, Conselho de Construção Sustentável). No mesmo ano, a Tecverde também foi reconhecida pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) pelo projeto de Pesquisa e Desenvolvimento para a criação de uma casa para uma única família, que pode ser montada e finalizada em um dia no local de construção, por uma equipe multifuncional de sete trabalhadores. Esse modelo está planejado para entrar no mercado em 2022. A outra área de negócios é o modelo B2C, que está relacionado principalmente a casas de uma única família, no qual o crescimento também é evidente. Variando da habitação de baixa a de alta renda, em uma solução combinada de crédito imobiliário e moradia para o cliente final, em parceria com a FinTech Homelend. A terceira divisão de negócios concentra-se em edifícios especiais, fora do segmento de habitação, na qual são realizados projetos específicos, como escolas e hospitais. Logo no início da pandemia de Covid, a Tecverde foi desafiada a participar de projetos de construção hospitalar para o tratamento de pacientes. Ramon: “Atingimos prazos de produção recordes com a combinação de painéis 2D de última geração, módulos 3D e kits totalmente integrados e finalizados remotamente, permitindo a entrega de novos hospitais em 35 dias.” A Tecverde tem uma plataforma integrada de kits, painéis e módulos, que são escolhidos de acordo com as especificações do projeto. Eles entregam projetos somente com painéis 2D fechados, construções totalmente modulares (3D), ou, até mesmo, uma combinação de ambos, que geralmente é apresentada como uma alternativa otimizada.
Sistema de estruturação em madeira leve
O setor da construção, que tem proporções impressionantes, até mesmo nos processos artesanais, inspirou a Tecverde a buscar soluções tecnológicas em outros países que atendessem às necessidades da sociedade brasileira e fossem adaptáveis aos materiais de construção e às caraterísticas da mão de obra. Dessa forma, ocorreu a definição do sistema de estruturação em madeira leve, com a pesquisa sobre o mais avançado sistema de construção e seu processo de desenvolvimento sendo realizada para adaptação ao mercado brasileiro, com testes e aprovação da tecnologia. Ramon: “A tecnologia de estruturação em madeira leve de forma remota permite a adoção de uma mentalidade de industrialização que resolve alguns dos principais problemas dos sistemas de construção tradicionais. Por meio da produção em um ambiente controlado, com o apoio de uma linha de produção automatizada, é possível alcançar níveis de qualidade, segurança e produtividade que aumentam a eficiência do processo de construção. A eliminação de processos ineficientes, enraizados em sistemas de construção tradicionais, permite que um produto com melhor desempenho e tecnologia integrada seja oferecido de forma mais rápida e a um custo mais baixo ao cliente final.” A fábrica da Tecverde tem uma área específica para a transformação de matéria-prima, na qual a madeira e os painéis são cortados, além da realização de pré-montagem de estruturas elétricas, de encanamento e de janelas que compõem os painéis de parede, o piso, as estruturas do teto e outros elementos. A segunda área de produção é dedicada à montagem desses painéis em duas linhas principais, uma dedicada a paredes e a outra a pisos, enquanto uma terceira estação de trabalho mais flexível é responsável pela produção de elementos especiais. Os painéis são enviados para a expedição e montados no local de construção, exceto aqueles direcionados aos módulos volumétricos, como no caso de cabines de banheiro, que são montadas na mesma fábrica. Nessa fábrica, a Tecverde tem uma capacidade de instalações direcionada à produção de 7 casas ou apartamentos por dia/turno. De acordo com Ramon, agora é possível montar um edifício de quatro andares para diversas famílias, com 16 apartamentos, em apenas seis dias, enquanto uma única casa totalmente funcional pode ser entregue em um dia. Somente o acabamento é feito pela contratante. As linhas de produção automatizadas foram fornecidas pela empresa alemã WEINMANN. Em sua primeira missão técnica internacional, a Tecverde visitou a WEINMANN, na Alemanha, e teve seu apoio na transferência de tecnologia antes mesmo do início das operações da primeira fábrica. Esta relação começou a ser intensificada em 2014, com a implementação da nova fábrica. Ramon: "A implementação dessa linha teve total suporte durante a instalação, comissionamento, treinamento da mão de obra e início da produção em escala, até o momento em que a Tecverde obteve autonomia para gerenciar sua manutenção preventiva."
Sistema de construção sustentável
Por ser um sistema de construção a seco, com um projeto planejado para pré-fabricação, que usa os principais materiais de entrada de fontes renováveis em abundância no Brasil, o sistema de construção desenvolvido pela Tecverde tem um viés voltado para a sustentabilidade. No local de construção, o uso de água é eliminado em atividades de montagem, e a baixa geração de resíduos é obtida por meio de estratégias de modulação, com a pequena quantidade residual sendo totalmente co-processada e reutilizada. Mesmo no uso do edifício, seu desempenho térmico superior tem um impacto positivo na demanda de energia para a climatização da habitação, que está de acordo com as oito zonas bioclimáticas brasileiras. Em relação à análise do ciclo de vida do edifício, o produto da Tecverde também proporciona uma redução nas emissões de CO2, já que utiliza madeira de florestas locais como matéria-prima principal.
Sólido ecossistema de construção industrializada
A América Latina sofre de uma grande demanda por casas acessíveis, com o déficit de habitação brasileiro atingindo, sozinho, 7 milhões de residências. Esse número tende a não diminuir quando se leva em conta o fenômeno da estagnação tecnológica e urbana do setor, que historicamente não tem sido capaz de resolver o problema. Ramon: “As mudanças no comportamento dos consumidores, juntamente com a agenda das mudanças climáticas, já não sustentam o modelo fornecido pelos métodos tradicionais de construção. O baixo desempenho e o baixo apetite pela evolução tecnológica no setor levaram a condições de trabalho inseguras e cada vez menos atrativas, o que culminou na escassez de mão de obra qualificada. Esse problema não está alinhado com a demanda por habitação e com o desenvolvimento das cidades.” Recentemente, a América do Sul viu o surgimento de mais iniciativas focadas na construção remota com estruturas de madeira leve, bem como por outros sistemas. Além dessas iniciativas, que investem em suas próprias fábricas e estratégias de produção, também fica evidente que a industrialização da construção está na agenda das principais construtoras e desenvolvedoras. Esta situação tem atraído cada vez mais os interessados, promovendo, a partir de uma rede mais sólida de fornecedores, a criação de códigos normativos específicos para a regulamentação destes sistemas inovadores, bem como um movimento acadêmico para treinar profissionais. Iniciativas que fortalecem um importante ecossistema de construção industrializada no continente. Por isso, Ramon vê o desenvolvimento do mercado na América Latina de forma muito positiva: "A convergência entre a lacuna de oportunidade existente e o crescimento desse ecossistema pode posicionar a América Latina como um dos principais pólos de construção industrializada do mundo."
«As mudanças no comportamento dos consumidores, juntamente com a agenda das mudanças climáticas, já não sustentam o modelo fornecido pelos métodos tradicionais de construção.»Ramon Kuhn Pollnow, Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Tecverde