Renovação do parque imobiliário para imóveis carbono neutros
A renovação energética de edifícios existentes que consomem muita energia é uma das tendências de mercado mais atuais na construção em madeira. Emanuel Heisenberg é CEO e fundador da empresa ecoworks. A start-up alemã está empenhada na digitalização e industrialização de renovações energéticas no setor da construção residencial e na indústria da construção. Seu objetivo é conseguir a neutralidade climática no parque imobiliário de maneira rápida e atrativa.
Sr. Heisenberg, qual é o papel do parque imobiliário para atingir as metas da proteção climática?
No mundo todo, o setor imobiliário é responsável por 38% das emissões dos gases de efeito estufa. Só na Alemanha, será necessário renovar 3,4 milhões de imóveis multifamiliares nos próximos anos. Em toda a Europa, a estimativa do número de Worst-Performing-Buildings – ou seja, prédios com classe de eficiência energética H – é dez vezes maior. Portanto, a renovação do parque imobiliário não pode mais ser ignorada! Ela exercerá uma função essencial para que possamos atingir as metas climáticas. Só na Europa, estamos falando de cerca de 20.000 imóveis por dia. Essa é a única maneira de atingir as metas climáticas atuais para evitar que se ultrapasse o aquecimento global máximo de 1,5 grau. O que precisamos agora é de imóveis carbono neutros e, para isso, temos que triplicar a renovação dos imóveis. Do nosso ponto de vista, a renovação em série é, até agora, o caminho mais promissor. Assim, já hoje podemos planejar e implantar edifícios econômicos para contribuir de forma decisiva com a neutralidade climática nesse setor.
Como distinguir a renovação em série da renovação convencional e quais vantagens resultam disso?
Tradicionalmente, até 95% dos trabalhos de renovação energética em um edifício existente são realizados diretamente no canteiro de obras. Isso, muitas vezes, significa que inquilinos e inquilinas precisam sair dos imóveis por um período maior. Realizar os trabalhos no local muitas vezes também significa que o processo é improdutivo em várias áreas. Por outro lado, o custo da renovação fica estratosférico. Isso tudo muda na renovação em série. Até 80% dos processos são feitos na fábrica. Aqui, os elementos de fachada isolados são pré-fabricados precisamente, em escala industrial. Portanto, já chegam completamente prontos no canteiro de obras e podem ser fixados de forma direta e minimamente invasiva. Isso economiza tempo e, consequentemente, também reduz os custos. Além da fabricação, também podemos planejar previamente a alimentação de energia. A renovação reduz nitidamente o consumo de energia do prédio, e o consumo restante pode ser coberto por energias renováveis como bombas de calor e instalações fotovoltaicas. Além disso, os proprietários dos prédios, conforme o projeto, podem ter direito a subsídio de 35-45% para renovações em série. Ou seja: quanto maior o projeto, tanto mais barata pode ser a fabricação em série de fachadas. Destarte, a renovação em série representa uma abordagem inovadora e minimamente invasiva para a renovação sistemática e energética de edificações. Com a ajuda dela, vamos levar a cota de renovação na Alemanha a um nível muito mais alto.
Qual é o papel que a sua empresa desempenha na implementação dessa proposta e quem são os seus clientes?
Eu fundei a ecoworks em 2018. O número de colaboradores aumentou para mais de 150 pessoas em 5 anos. Sem dúvida nenhuma, fomos os “pioneiros” da renovação em série na Alemanha. Tudo começou com um White Paper que escrevi sobre o tema da transformação de calor para grupos de parlamentares. Naquela época, eu havia visto a renovação em série de casas geminadas nos Países Baixos e recomendei que essa tecnologia fosse trazida para a Alemanha. No final, nós mesmos fizemos isso com a ecoworks e implantamos a primeira renovação em série na Alemanha, na cidade de Hamelin. Hoje, temos 14 projetos em fase de planejamento ou em construção. A demanda pelo nosso conceito está crescendo. Nesse meio tempo, outras construtoras reconheceram a importância da renovação em série e já se posicionaram correspondentemente. Isso confirma para nós que a demanda existe e que, em última instância, precisamos de muito mais concorrência e inovação para descarbonizar o parque imobiliário, a maior classe de ativos do mundo, que concentra 68% da nossa prosperidade. No momento, oferecemos nosso pacote de renovação para imóveis residenciais multifamiliares de dois a cinco andares. Com isso, nos referimos sobretudo a construtoras residenciais, cooperativas habitacionais e, também, desenvolvedores de projeto. Infelizmente, ainda não compensa fazer a renovação em série de uma a duas casas residenciais. Mas como acontece com muitas tecnologias semelhantes, com o tempo também vamos sentir os efeitos da economia de escala, os custos vão baixar e surgirão muitas outras possibilidades de aplicação. Nosso próximo passo será trabalhar em soluções para outras classes de edificações. Recebemos consultas de escolas e prédios de escritórios com mais frequência, o que nos faz querer desenvolver nosso produto cada vez mais.
Qual a próxima evolução da renovação em edificações que o senhor espera para os próximos anos? (Na Alemanha, mas também na Europa e no mundo todo)
A indústria da renovação irá se adaptar no longo prazo a setores como a indústria automobilística. Será algo bem natural o fato de um proprietário poder escolher e encomendar os componentes para uma renovação em um catálogo. Aliás, já estamos usando um configurador desse tipo. Com a nossa nova plataforma de software e hardware, vamos incentivar cada vez mais a escalabilidade da renovação em série. Nossa visão é de que, um dia, a renovação poderá ser configurada por cliques, com planejamento quase que automático e ela, depois, poderá ser acompanhada na obra por aplicativo. Além desses desenvolvimentos técnicos, também haverá o volume e a padronização de alguns poucos subsistemas que proporcionarão grandes alterações. Esses desenvolvimentos nos aproximam cada vez mais das casas carbono neutras acessíveis a todos.
Quais as oportunidades que isso traz para as construtoras de madeira?
Atualmente, a ecoworks trabalha com três construtoras em madeira. Quando escolhemos nossos parceiros, três aspectos são muito importantes: qualidade excelente, escalabilidade por aumento da capacidade e a possibilidade de poder continuar desenvolvendo estruturas construtivas em madeira conjuntamente. Nesse aspecto, a construção em madeira precisa ser mais inovadora e oferecer suas próprias capacidades de engenharia. Também será necessário que os construtores de máquinas adaptem a robótica de outros setores às aplicações da fabricação em série de estruturas de edificações. O desenvolvimento se distancia das peças únicas manufaturadas e segue na direção da verdadeira fabricação em massa, com processos de produção há muito estabelecidos em outros setores. O material construtivo madeira é importante para a economia de CO₂ em prédios renovados por 50 ou 100 anos. Além disso, o material madeira é barato e tem características perfeitas para comercialização. No entanto, a construção em madeira precisa se abrir mais, para que a onda de renovação, a “Renovation Wave”, continue sendo um fator decisivo.